domingo, 1 de fevereiro de 2015

A SAGRADA ESCRITURA: O VERBO,

  • A SAGRADA ESCRITURA: O VERBO, INSPIRAÇÃO E VERDADE, A INTERPRETAÇÃO DA ESCRITURA 101-119 INTRODUÇÃO


A Escritura (Antigo e Novo Testamento) é o tema principal dos parágrafos que vamos estudar. Como conjunto de escritos sagrados inspirados por Deus, a Bíblia é o registro estável e normativo para todos os tempos da fé hebraica e cristã. É inegável a importância da Escritura para vida cristã. Vale a pena recordar que a expressão “Palavra de Deus” (Dei Verbum) indica primeiramente não a Escritura (a palavra escrita), mas o próprio evento da revelação. Ora, esse acontecimento admirável brilha para nós em Cristo que é a plenitude de tal revelação divina (cf. DV 2). Por isso, ao falar da Escritura, o Catecismo começa com o tema “Cristo: Palavra única da Sagrada Escritura”. A Revelação antes de ser Escritura é evento e acontecimento. Isso nos faz compreender “por que motivo, na Igreja, veneramos extremamente as Sagradas Escrituras, apesar da fé cristã não ser uma „religião do Livro‟: o cristianismo é a „religião da Palavra de Deus‟, não de „uma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo” (VD 7). Essa “concentração cristológica” da revelação não diminui em nada o respeito devido às Sagradas Escrituras. A Bíblia é Palavra de Deus porque inspirada por Deus, ou seja, foi o Espírito Santo que agiu na sua elaboração. Nesse ponto, o Catecismo estabelece uma relação importante entre o fato da inspiração e a interpretação da Escritura. A Escritura deve ser lida e interpretada no mesmo Espírito em que ela fo

i escrita (cf. DV 12,3)

Esse critério parece evidente e pressuposto: se a Escritura é inspirada pelo Espírito Santo, é evidente que deva ser interpretada segundo o mesmo Espírito. Infelizmente o que é pressuposto, nem sempre é o que ocorre na prática. Prova disso são os exemplos de instrumentalização da Bíblia, de interpretações tendenciosas e unilaterais que hoje parecem se multiplicar.


Atenção ao termo “Palavra de Deus”

Quando usamos e ouvimos a expressão “Palavra de Deus” é preciso estar atento aos diversos significados que ela assume sem deixar de relacionar esses significados entre si A diversidade de significados que o termo “Palavra de Deus” possui não significa confusão nem contradição. Pelo contrário, indica tanto a riqueza quanto a convergência dos diversos significados. Para aprofundar, leia e reflita o texto a seguir (grifo nosso). O Logos (Palavra, Verbo) indica originariamente o Verbo eterno, ou seja, o Filho unigênito, gerado pelo Pai antes de todos os séculos e consubstancial a Ele: “o Verbo estava junto de Deus, o Verbo era Deus”. Mas este mesmo Verbo (...) “Se fez carne” (Jo 1, 14). Assim a expressão “Palavra de Deus” acaba por indicar a pessoa de Jesus Cristo, Filho eterno do Pai feito homem. Além disso, se no centro da revelação divina está o acontecimento de Cristo, é preciso reconhecer que a própria criação, o liber naturae (livro da natureza), constitui também essencialmente parte da sinfonia a diversas vozes na qual Se exprime o único Verbo. Do mesmo modo confessamos que Deus comunicou a sua Palavra na história da salvação, fez ouvir a sua voz; com a força do seu Espírito, «falou pelos profetas». Por conseguinte, a Palavra divina exprime-se ao longo de toda a história da salvação e tem a sua plenitude no mistério da encarnação, morte e ressurreição do Filho de Deus. E Palavra de Deus é ainda aquela pregada pelos Apóstolos, em obediência ao mandato de Jesus Ressuscitado: “Ide pelo mundo inteiro e anunciai a Boa Nova a toda a criatura” (Mc 16,15). Assim a Palavra de Deus é transmitida na Tradição viva da Igreja. Enfim, é Palavra de Deus, atestada e divinamente inspirada, a Sagrada Escritura, Antigo e Novo Testamento (Verbum


  • TEXTO 101-119 CAPÍTULO SEGUNDO DEUS VEM AO ENCONTRO DO HOMEM ARTIGO 3 A SAGRADA ESCRITURA

I. Cristo – Palavra única da Escritura santa 101. Na sua bondade condescendente, para Se revelar aos homens. Deus fala-lhes em palavras humanas: «As palavras de Deus, com efeito, expressas por línguas humanas, tornaram-se semelhantes à linguagem humana, tal como outrora o Verbo do eterno Pai se assemelhou aos homens assumindo a carne da debilidade humana» (DV 13). 102. Através de todas as palavras da Sagrada Escritura. Deus não diz mais que uma só Palavra, o seu Verbo único, em quem totalmente Se diz (cf. Hb 1,1-3): «Lembrai-vos de que o discurso de Deus que se desenvolve em todas as Escrituras é um só e um só é o Verbo que Se faz ouvir na boca de todos os escritores sagrados, o qual, sendo no princípio Deus junto de Deus, não tem necessidade de sílabas, pois não está sujeito ao tempo» (Santo Agostinho, Enarratio in Psalmum 103,4,1: CCL 40,1521). 103. Por esta razão, a Igreja sempre venerou as divinas Escrituras tal como venera o Corpo do Senhor. Nunca cessa de distribuir aos fiéis o Pão da vida, tornado à mesa quer da Palavra de Deus, quer do Corpo de Cristo (DV 21). 104. Na Sagrada Escritura, a Igreja encontra continuamente o seu alimento e a sua força (DV 24), porque nela não recebe apenas uma palavra humana, mas o que ela é na realidade: a Palavra de Deus (cf. 1Ts 2,13). «Nos livros sagrados, com efeito, o Pai que está nos Céus vem amorosamente ao encontro dos seus filhos, a conversar com eles»



O ESTIRITU SANTO 


II. Inspiração e verdade da Sagrada Escritura 105. Deus é o autor da Sagrada Escritura. «A verdade divinamente revelada, que os livros da Sagrada Escritura contêm e apresentam, foi registrada neles sob a inspiração do Espírito Santo». «Com efeito, a santa Mãe Igreja, segundo a fé apostólica, considera como sagrados e canônicos os livros completos do Antigo e do Novo Testamento com todas as suas partes, porque, escritos por inspiração do Espírito Santo, têm Deus por autor, e como tais foram confiados à própria Igreja» (DV 11). 106. Deus inspirou os autores humanos dos livros sagrados. «Para escrever os livros sagrados, Deus escolheu e serviu-se de homens, na posse das suas faculdades e capacidades, para que, agindo Ele neles e por eles, pusessem por escrito, como verdadeiros autores, tudo aquilo e só aquilo que Ele queria» (DV 11). 107. Os livros inspirados ensinam a verdade. «E assim como tudo o que os autores inspirados ou hagiógrafos afirmam, deve ser tido como afirmado pelo Espírito Santo, por isso mesmo se deve acreditar que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus quis que fosse consignada nas sagradas Letras em ordem à nossa salvação» (DV 11). 108. No entanto, a fé cristã não é uma «religião do Livro». O Cristianismo é a religião da «Palavra» de Deus, «não duma palavra escrita e muda, mas do Verbo encarnado e vivo» (São Bernardo de Claraval, Homilia super "Missus est" 4,11). Para que não sejam letra morta, é preciso que Cristo, Palavra eterna do Deus vivo, pelo Espírito Santo, nos abra o espírito à inteligência das Escrituras (cf. Lc 24,45

III. O Espírito Santo, intérprete da Escritura 109. Na Sagrada Escritura, Deus fala ao homem à maneira dos homens. Portanto, para bem interpretar a Escritura, é necessário prestar atenção ao que os autores humanos realmente quiseram dizer, e àquilo que aprouve a Deus manifestar-nos pelas palavras deles (DV 12). 110. Para descobrir a intenção dos autores sagrados, é preciso ter em conta as condições do seu tempo e da sua cultura, os «gêneros literários» em uso na respectiva época, os modos de sentir, falar e narrar correntes naquele tempo. «Porque a verdade é proposta e expressa de modos diversos, em textos históricos de vária índole, ou proféticos, ou poéticos ou de outros gêneros de expressão» (DV 12). 111. Mas, uma vez que a Sagrada Escritura é inspirada, existe outro princípio de interpretação reta, não menos importante que o anterior, e sem o qual a Escritura seria letra morta: «A Sagrada Escritura deve ser lida e interpretada com o mesmo espírito com que foi escrita» (DV 12). O II Concílio do Vaticano indica três critérios para uma interpretação da Escritura conforme ao Espírito que a inspirou (DV 12): 112. 1. Prestar grande atenção «ao conteúdo e à unidade de toda a Escritura». Com efeito, por muito diferentes que sejam os livros que a compõem, a Escritura é una, em razão da unidade do desígnio de Deus, de que Jesus Cristo é o centro e o coração, aberto desde a sua Páscoa (df. Lc 24, 25-27.44-46). «Por coração (Sl 22,15) de Cristo entende-se a Sagrada Escritura que nos dá a conhecer o coração de Cristo. Este coração estava fechado antes da Paixão, porque a Escritura estava cheia de obscuridades. Mas a Escritura ficou aberta depois da Paixão e assim, aqueles que desde então a consideram com inteligência, discernem o modo como as profecias devem ser interpretadas» (São Tomás de Aquino, Expositio in Psalmos, 21,11). 113. 2. Ler a Escritura na «tradição viva de toda a Igreja». Segundo uma sentença dos Padres,«Sacra Scriptura principalius est in corde Ecclesiae quam in materialibus instrumentis scripta» – «A Sagrada Escritura está escrita no coração da Igreja, mais do que em instrumentos materiais» (cf. Santo Hilário de Poitiers, Liber ad Constantium Imperatorem 9: CSEL 65,204; São Jerônimo, Commentarius in epistulam ad Galatas I 1,11-12: PL 26,347). Com efeito, a Igreja conserva na sua Tradição a memória viva da Palavra de Deus, e é o Espírito Santo que lhe dá a interpretação espiritual da Escritura («secundum spiritualem sensum quem Spiritus donat Ecclesiae» «segundo o sentido espiritual que o Espírito Santo dá à Igreja») (Orígenes, Homiliae in Leviticum 5,5: SC

                                                    A SUA FÉ

 114. 3. Estar atento «à analogia da fé» (cf. Rm 12,6). Por «analogia da fé» entendemos a coesão das verdades da fé entre si e no projeto total da Revelação. OS SENTIDOS DA ESCRITURA 115. Segundo uma antiga tradição, podemos distinguir dois sentidos da Escritura: o sentido literal e o sentido espiritual, subdividindo-se este último em sentido alegórico, moral e anagógico. A concordância profunda dos quatro sentidos assegura a sua riqueza à leitura viva da Escritura na Igreja: 116. O sentido literal. É o expresso pelas palavras da Escritura e descoberto pela exegese segundo as regras da reta interpretação. «Omnes sensus fundantur super litteralem» – «Todos os sentidos (da Sagrada Escritura) se fundamentam no literal» (São Tomás de Aquino, Summa theologiae I, q.1, a.10, adI). 117. O sentido espiritual. Graças à unidade do desígnio de Deus, não só o texto da Escritura, mas também as realidades e acontecimentos de que fala, podem ser sinais. 1. O sentido alegórico. Podemos adquirir uma compreensão mais profunda dos acontecimentos, reconhecendo o seu significado em Cristo: por exemplo, a travessia do Mar Vermelho é um sinal da vitória de Cristo e, assim, do Baptismo (cf. 1Cor 10,2). 2. O sentido moral. Os acontecimentos referidos na Escritura podem conduzir-nos a um comportamento justo. Foram escritos «para nossa instrução» (1Cor 10,11; cf. Hb 3- 4,11). 3. O sentido anagógico. Podemos ver realidades e acontecimentos no seu significado eterno, o qual nos conduz (em grego: «anagoge») em direção à nossa Pátria. Assim, a Igreja terrestre é sinal da Jerusalém celeste (cf. Ap 21,1-22,5). 118. Um dístico medieval resume a significação dos quatro sentidos: «Littera gesta docet, quid credas allegoria. Moralis quid agas, quo tendas anagogia». «A letra ensina-te os factos (passados), a alegoria o que deves crer, a moral o que deves fazer, a anagogia para onde deves tender» (Agostinho de Dácia, Rotulus pugillaris, I). 119. «Cabe aos exegetas trabalhar, de harmonia com estas regras, por entender e expor mais profundamente o sentido da Sagrada Escritura, para que, mercê deste estudo, de algum modo preparatório, amadureça o juízo da Igreja. Com efeito, tudo quanto diz respeito à interpretação da Escritura, está sujeito ao juízo último da Igreja, que tem o divino mandato e o ministério de guardar e interpretar a Palavra de Deus» (DV 12): «Ego vero Evangelio non crederem, nisi me catholicae Ecclesiae commoveret auctoritas» – «Quanto a mim, não acreditaria no Evangelho se não me movesse a isso a autoridade da Igreja católica» (Santo Agostinho, Contra Epistulam Manichaei quam



                        REVISANDO TEMAS

1. Inspiração e verdade Cristo está no centro e é o princípio da unidade da Sagrada Escritura porque, nas palavras escritas, ressoa a Palavra única que é o próprio Cristo. Por isso, se quisermos ter acesso à revelação divina é preciso ir ao homem Jesus, o Verbo encarnado. O coração de Deus é revelado pelo coração humano de Jesus. Mas a plenitude da revelação, presente em Jesus Cristo, poder ser descoberta por nós somente através da mediação da Escritura. Assim todo esforço que fazemos para conhecer a Sagrada Escritura está finalizado a conhecer o próprio Cristo. Como é possível que um escrito nos abra o acesso à pessoa de Cristo? Isso só é possível porque o Espírito Santo inspirou a Escritura. Com efeito, os livros da Escritura são normativos para a Igreja (recebe deles a sua regra de vida) e possuem um caráter sagrado para ela (por isso são “Sagrada Escritura”) exatamente porque foram escritos por inspiração do Espírito Santo. A doutrina da Inspiração bíblica não deve ser confundida com fenômenos semelhantes à psicografia. Os escritores humanos escreveram, de fato, sob a atuação do Espírito Santo, como autores genuínos e não como meros estenógrafos inconscientes que escreveriam o que foi ditado por Deus. Inspiração é o impulso especial e a orientação do Espírito Santo mediante o qual foram compostos os livros da Sagrada Escritura que por isso podem ser chamados “Palavra de Deus” (cf. Jo 20,31; 2Tm 3,16; 2Pd 1,19-21; 3,15-16;

Atenção ao termo: Psicografia. Em espiritismo, é a faculdade dos médiuns, sob a atuação de espíritos comunicantes, escreverem com a própria mão ou, conforme o desenvolvimento mediúnico, com ambas as mãos ao mesmo tempo. O médium não toma nenhum conhecimento do que escreve e às vezes enquanto o faz, conversa com os assistentes. A Inspiração bíblica é portanto um carisma específico. Primeiramente é um impulso a escrever. De fato, o Espírito pode impelir para muitas coisas: para agir, rezar e falar; pode discernir e julgar; pode revelar coisas futuras etc. Mas chamamos de inspiração 



bíblica somente o carisma ligado a escrever. Além disso, o carisma da Inspiração bíblica é o que garante que o escrito é querido por Deus e por isso pode ser chamado de “Palavra de Deus”. O influxo do Espírito Santo sobre os hagiógrafos, porém, não absorve nem destrói a ação dos autores humanos, antes os assume. Por isso os autores inspirados são autores genuínos e não meros instrumentos passíveis e extrínsecos da ação do Espírito. O carisma da Inspiração bíblica, por fim, continua na Igreja não no senso de que mais livros inspirados possam ser ainda escritos (o número de livros sacros está definitivamente fechado), mas no sentido de que o mesmo Espírito Santo, que inspirou os livros sagrados, continua a agir na Igreja para a sua reta interpretação e atualização. Assim a aceitação de que a Bíblia é inspirada por Deus (e por isso é Palavra de Deus) obriga os cristãos a interpretá-la e a atualizá-la. Ignorar ou esquecer isso, significa cair na leitura fundamentalista da Bíblia. O que é leitura fundamentalista da Bíblia? Para entender isso, leia o texto da Pontifícia Comissão Bíblica, A Interpretação da Bíblia na Igreja, Vaticano, 1993. O texto integral pode ser encontrado em: http://www.vatican.va/roman_curia/congregations/cfaith/pcb_documents/rc_con_cfaith _doc_19930415_interpretazione_po.html. O negrito é nosso. A leitura fundamentalista parte do princípio de que a Bíblia, sendo Palavra de Deus inspirada e isenta de erro, deve ser lida e interpretada literalmente em todos os seus detalhes. Mas por “interpretação literal” ela entende uma interpretação primária, literalista, isto é, excluindo todo esforço de compreensão da Bíblia que leve em conta seu crescimento histórico e seu desenvolvimento. Ela se opõe assim à utilização do método histórico-crítico, como de qualquer outro método científico, para a interpretação da Escritura. A leitura fundamentalista teve sua origem na época da Reforma, com uma preocupação de fidelidade ao sentido literal da Escritura. Após o século das Luzes, ela se apresentou no protestantismo como uma proteção contra a exegese liberal. O termo “fundamentalista” é ligado diretamente ao Congresso Bíblico Americano realizado em Niagara, Estado de New York, em 1895. Os exegetas protestantes conservadores definiram nele “cinco pontos de fundamentalismo”: a inerrância verbal da Escritura, a divindade de Cristo, seu nascimento virginal, a doutrina da expiação vicária e a ressurreição corporal quando da segunda vinda de Cristo. Logo que a leitura fundamentalista da Bíblia se propagou em outras partes do mundo ela fez nascer outras espécies de leituras, igualmente “literalistas”, na Europa, Ásia, África e América do Sul. Esse gênero de leitura encontra cada vez mais adeptos, no decorrer da última parte do século XX, em grupos religiosos e seitas assim como também entre os católicos. Se bem que o fundamentalismo tenha razão em insistir sobre a inspiração divina da Bíblia, a inerrância da Palavra de Deus e as outras verdades bíblicas inclusas nos cinco pontos fundamentais, sua maneira de apresentar essas verdades está enraizada em uma ideologia que não é bíblica, apesar do que dizem seus representantes. Ela exige uma forte adesão a atitudes doutrinárias rígidas e impõe, como fonte única de ensinamento a respeito da vida cristã e da salvação, uma leitura da Bíblia que recusa todo questionamento e toda pesquisa crítica.


O problema de base dessa leitura fundamentalista é que recusando de levar em consideração o caráter histórico da revelação bíblica, ela se torna incapaz de aceitar plenamente a verdade da própria Encarnação. O fundamentalismo foge da estreita relação do divino e do humano no relacionamento com Deus. Ele se recusa em admitir que a Palavra de Deus inspirada foi expressa em linguagem humana e que ela foi redigida, sob a inspiração divina, por autores humanos cujas capacidades e recursos eram limitados. Por esta razão, ele tende a tratar o texto bíblico como se ele tivesse sido ditado palavra por palavra pelo Espírito e não chega a reconhecer que a Palavra de Deus foi formulada em uma linguagem e uma fraseologia condicionadas por uma ou outra época. Ele não dá nenhuma atenção às formas literárias e às maneiras humanas de pensar presentes nos textos bíblicos, muitos dos quais são fruto de uma elaboração que se estendeu por longos períodos de tempo e leva a marca de situações históricas muito diversas. O fundamentalismo insiste também de uma maneira indevida sobre a inerrância dos detalhes nos textos bíblicos, especialmente em matéria de fatos históricos ou de pretensas verdades científicas. Muitas vezes ele torna histórico aquilo que não tinha a pretensão de historicidade, pois ele considera como histórico tudo aquilo que é reportado ou contado com os verbos em um tempo passado, sem a necessária atenção à possibilidade de um sentido simbólico ou figurativo. O fundamentalismo tem muitas vezes tendência a ignorar ou a negar os problemas que o texto bíblico comporta na sua formulação hebraica, aramaica ou grega. Ele é muitas vezes estreitamente ligado a uma tradição determinada, antiga ou moderna. Ele se omite igualmente de considerar as “releituras” de certas passagens no interior da própria Bíblia. No que concerne os Evangelhos, o fundamentalismo não leva em consideração o crescimento da tradição evangélica, mas confunde ingenuamente o estágio final desta tradição (o que os evangelistas escreveram) com o estágio inicial (as ações e as palavras do Jesus da história). Ele negligencia assim um dado importante: a maneira com a qual as próprias primeiras comunidades cristãs compreenderam o impacto produzido por Jesus de Nazaré e sua mensagem. Ora, aqui está um testemunho da origem apostólica da fé cristã e sua expressão direta. O fundamentalismo desnatura assim o apelo lançado pelo próprio Evangelho. O fundamentalismo tem igualmente tendência a uma grande estreiteza de visão, pois ele considera conforme a realidade uma antiga cosmologia já ultrapassada, só porque encontra-se expressa na Bíblia; isso impede o diálogo com uma concepção mais ampla das relações entre a cultura e a fé. Ele se apoia sobre uma leitura não-crítica de certos textos da Bíblia para confirmar ideias políticas e atitudes sociais marcadas por preconceitos, racistas, por exemplo, simplesmente contrários ao Evangelho cristão. Enfim, em sua adesão ao princípio do “sola Scriptura”, o fundamentalismo separa a interpretação da Bíblia da Tradição guiada pelo Espírito, que se desenvolve autenticamente em ligação com a Escritura no seio da comunidade de fé. Falta-lhe entender que o Novo Testamento tomou forma no interior da Igreja cristã e que ele é Escritura Santa desta Igreja, cuja existência precedeu a composição de seus textos. Assim, o fundamentalismo é muitas vezes anti-eclesial; ele considera negligenciáveis os credos, os dogmas e as práticas litúrgicas que se tornam parte da tradição eclesiástica, como também a função de ensinamento da própria Igreja. Ele se apresenta como uma forma de interpretação privada, que não reconhece que a Igreja é fundada sobre a Bíblia e tira sua vida e sua inspiração das Escrituras.



A abordagem fundamentalista é perigosa, pois ela é atraente para as pessoas que procuram respostas bíblicas para seus problemas da vida. Ela pode enganá-las oferecendo-lhes interpretações piedosas mas ilusórias, ao invés de lhes dizer que a Bíblia não contém necessariamente uma resposta imediata a cada um desses problemas. O fundamentalismo convida, sem dizê-lo, a uma forma de suicídio do pensamento. Ele coloca na vida uma falsa certeza, pois ele confunde inconscientemente as limitações humanas da mensagem bíblica com a substância divina dessa mensagem. Leia também VD 44. Uma vez que a Bíblia é inspirada por Deus, é preciso crer, em consequência, “que os livros da Escritura ensinam com certeza, fielmente e sem erro, a verdade que Deus quis que fosse consignada nas sagradas Letras em ordem à nossa salvação” (DV 11). Tudo na Escritura está relacionado com a Revelação que tem como finalidade a nossa salvação. Deus se revela para nos oferecer a comunhão com Ele e nisso consiste a nossa salvação. A revelação não tem a finalidade de nos comunicar “curiosidades” ou “informações” sobre Deus. A revelação está finalizada e se identifica com a nossa salvação. Da mesma maneira, a Bíblia está orientada à nossa salvação. Assim a verdade que a Bíblia nos comunica é a verdade salvífica, ou seja, nela podemos encontrar de maneira indubitável os desígnios de Deus para a nossa salvação: as suas exigências, os seus mandamentos, as suas iniciativas de perdão e de salvação. A verdade da Escritura é portanto a capacidade que a Bíblia tem, em virtude da sua origem divina (=inspiração), de nos transmitir toda a verdade concernente ao plano salvífico de Deus para o homem de todos os tempos. Mesmo que ela nos comunique a verdade salvadora, a Bíblia permanece um conjunto de escritos de um determinado tempo da história. Ela é Palavra de Deus, sem deixar de ser expressa em palavras humanas condicionadas a um tempo e lugar. Como palavra humana condicionada, a Bíblia pode conter concepções que não são mais as nossas. Por isso podemos encontra na Bíblia alguns “erros” (preste atenção nas aspas!) do ponto de vista da historiografia ou da ciência moderna. Isso não fere em nada o fato de que a Bíblia ensine a verdade, uma vez que informações historiográficas ou científicas não eram nem são o objetivo visado pela Bíblia.

 2. Interpretação Para interpretar o texto bíblico é preciso ter consciência da sua origem divina. “Sem fé não há chave de acesso ao texto sagrado (...) „A letra do Evangelho também mata, se faltar a graça interior da fé que cura‟” (VD 29). Por outro lado, não se deve esquecer que a Sagrada Escritura, enquanto obra inspirada, é ao mesmo tempo produção literária de homens. Por isso deve-se ter presente os gêneros literários e as condições da época e da cultura dos autores sagrados. A Bíblia é uma obra inserida na história e um texto do passado; testemunha pessoas e doutrinas de séculos e milênios passados. Ela foi composta por superposição e por fusão de muitos outros escritos anteriores. A Bíblia pode ser comparada a um mar formado de muitas águas confluentes. As pesquisas histórico-críticas revelam que a Bíblia tem uma longa e complexa história. A interpretação bíblica, no entanto, não pode parar nesse estágio. Mesmo que reconheçamos a Escritura como um texto do passado, não devemos considerá-la engolida pela história. A Bíblia é Palavra viva e continuará a falar a todas as gerações.


Ela está inserida na história e ao mesmo tempo a supera e a transcende. A Bíblia é um texto que vem do passado, mas transcende as épocas da história porque se refere constantemente ao mistério imutável e imperscrutável de Deus. O texto bíblico não deve ser estudado somente em sua referência histórica e geográfica, literária e ambiental. Estudamos a Bíblia para descobrir o valor espiritual perene presente nela. A interpretação “espiritual” da Bíblia não deve ser entendida como piedosa elevação ascética, mas como descoberta das grandes atitudes que a sua mensagem nos conduz ou exige de nós: o arrependimento, a conversão do coração, a busca do Reino de Deus, o abandono confiante na fé, a pobreza evangélica, o dom de si aos outros, a superação da morte, a alegria na perseguição, a esperança no Deus que vem. A Bíblia é um dom de Deus à Igreja: segundo o desígnio de Deus, a Igreja recebe a Escritura como parte integrante de si mesma e como realidade que a constituiu. Em outras palavras, a Igreja nasce e se constitui recebendo a Escritura. Por isso, “o lugar originário da interpretação da Escritura é a vida da Igreja. Esta afirmação não indica a referência eclesial como um critério extrínseco ao qual se devem submeter os exegetas, mas é uma exigência da própria realidade das Escrituras e do modo como se formaram ao longo do tempo. De fato, as tradições de fé formavam o ambiente vital onde se inseriu a atividade literária dos autores da Sagrada Escritura. Esta inserção englobava também a participação na vida litúrgica e na atividade externa das comunidades, no seu mundo espiritual, na sua cultura e nas vicissitudes do seu destino histórico. Por isso, de modo semelhante, a interpretação da Sagrada Escritura exige a participação dos exegetas em toda a vida e em toda a fé da comunidade crente do seu tempo. Por conseguinte, devendo a Sagrada Escritura ser lida e interpretada com o mesmo Espírito com que foi escrita, é preciso que os exegetas, os teólogos e todo o Povo de Deus se abeirem dela por aquilo que realmente é: como Palavra de Deus que Se nos comunica através de palavras humanas (cf. 1Ts 2,13). Trata-se de um dado constante e implícito na própria Bíblia: „Nenhuma profecia da Escritura é de interpretação particular, porque jamais uma profecia foi proferida pela vontade dos homens. Inspirados pelo Espírito Santo é que os homens santos falaram em nome de Deus‟ (2Pd 1,20-21). Aliás, é precisamente a fé da Igreja que reconhece na Bíblia a Palavra de Deus; como admiravelmente diz Santo Agostinho, „não acreditaria no Evangelho se não me movesse a isso a autoridade da Igreja Católica‟. O Espírito Santo, que anima a vida da Igreja, é que torna capaz de interpretar autenticamente as Escrituras. A Bíblia é o livro da Igreja e, a partir da imanência dela na vida eclesial, brota também a sua verdadeira hermenêutica” (VD 29)



                                                   O FIM VEM

Os que não são cristãos tem dificuldade em acreditar que estamos vivendo nos últimos dias da história de esta Terra. A Bíblia diz em 2 Pedro 3:3-4 “Sabendo primeiro isto, que nos últimos dias virão escarnecedores com zombaria andando segundo as suas próprias concupiscências, e dizendo: Onde está a promessa da sua vinda? porque desde que os pais dormiram, todas as coisas permanecem como desde o princípio da criação.” A vinda do anticristo é um sinal do fim. A Bíblia diz em 1 João 2:18 “Filhinhos, esta é a última hora; e, conforme ouvistes que vem o anticristo, já muitos anticristos se têm levantado; por onde conhecemos que é a última hora.”
Que disse Jesus sobre quando o fim do mundo chegaría? A Bíblia diz em Mateus 24:14 “E este evangelho do reino será pregado no mundo inteiro, em testemunho a todas as nações, e então virá o fim.”
Nos últimos dias haverão homens fazendo-se passar por Jesus para nos enganar, A Bíblia diz em Mateus 24:23-24 “Se, pois, alguém vos disser: Eis aqui o Cristo! ou: Ei-lo aí! não acrediteis; porque hão de surgir falsos cristos e falsos profetas, e farão grandes sinais e prodígios; de modo que, se possível fora, enganariam até os escolhidos.”
Haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas. A Bíblia diz em Mateus 24:29-30 “Logo depois da tribulação daqueles dias, escurecerá o sol, e a lua não dará a sua luz; as estrelas cairão do céu e os poderes dos céus serão abalados. Então aparecerá no céu o sinal do Filho do homem, e todas as tribos da terra se lamentarão, e verão vir o Filho do homem sobre as nuvens do céu, com poder e grande glória.”
Em que condição moral estará a nossa sociedade nos últimos dias? A Bíblia diz em 2 Timóteo 3:1-5 “Sabe, porém, isto, que nos últimos dias sobrevirão tempos penosos; pois os homens serão amantes de si mesmos, gananciosos, presunçosos, soberbos, blasfemos, desobedientes a seus pais, ingratos, ímpios, sem afeição natural, implacáveis, caluniadores, incontinentes, cruéis, inimigos do bem, traidores, atrevidos, orgulhosos, mais amigos dos deleites do que amigos de Deus, tendo aparência de piedade, mas negando-lhe o poder. Afasta- te também desses.”
Um aumento em conhecimento e habilidade de viajar é um sinal dos últimos dias. A Bíblia diz em Daniel 12:4 “Tu, porém, Daniel, cerra as palavras e sela o livro, até o fim do tempo; muitos correrão de uma parte para outra, e a ciência se multiplicará.”
Que outros sinais dos últimos dias menciona a Bíblia? A Bíblia diz em Lucas 21:25-26 “E haverá sinais no sol, na lua e nas estrelas; e sobre a terra haverá angústia das nações em perplexidade pelo bramido do mar e das ondas. Os homens desfalecerão de terror, e pela expectação das coisas que sobrevirão ao mundo; porquanto os poderes do céu serão abalados.”
Conversaçôes sobre paz e segurança é outro sinal dos últimos dias. A Bíblia diz em 1 Tessalonicenses 5:2-3 “Porque vós mesmos sabeis perfeitamente que o dia do Senhor virá como vem o ladrão de noite; pois quando estiverem dizendo: Paz e segurança! então lhes sobrevirá repentina destruição, como as dores de parto àquela que está grávida; e de modo nenhum escaparão.”
Que devem as pessoas fazer quando veem estes sinais? A Bíblia diz em Mateus 24:42-44 “Vigiai, pois, porque não sabeis em que dia vem o vosso Senhor; sabei, porém, isto: se o dono da casa soubesse a que vigília da noite havia de vir o ladrão, vigiaria e não deixaria minar a sua casa. Por isso ficai também vós apercebidos; porque numa hora em que não penseis, virá o Filho do homem.”
DEUS ABENÇOE VOCÊS TODOS   ASS;; LUCIA

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